O luto é para ser vivido, não substituído

Se você não atravessar todas as etapas da dor pela perda de alguém querido, seja por falecimento ou por separação, perda de emprego, aborto, saída dos filhos de casa, entre outras causas, esse sentimento não vai sumir e o tempo não vai curá-lo. Ele vai ficar lá, incomodando de muitas maneiras, e muitas vezes você nem terá consciência disso.

Quando se perde uma pessoa ou um animal de estimação, colocar outro no lugar, sem aceitar antes a dor que isso está causando, vai funcionar como um band-aid: não sara, só camufla o ferimento. Quando o processo de luto não é assumido, em cada nova relação se buscará algo da relação anterior. É preciso aceitar que está doendo e permitir a gama de sentimentos e emoções que emergem em um processo de luto, tais como: a raiva, a revolta, a culpa, a insegurança, a tristeza.

Especialistas organizam as etapas do luto da seguinte maneira:

Fase de choque
Duração de algumas horas ou semanas. Pode vir acompanhada de manifestações de desespero ou raiva. A pessoa parece ausente, mas manifesta um alto nível de tensão. Podem ocorrer expressões emocionais intensas, ataques de pânico e de raiva. O apoio de amigos ou pessoas queridas é muito importante nesta fase.

Fase do desejo e busca da figura perdida
Nesta fase há a expressão do desejo da presença e a busca da pessoa perdida. Quando o enlutado percebe a realidade da perda, podem ocorrer desespero, inquietação e insônia. A pessoa fica em estado de atenção e qualquer ruído pode indicar a presença e confirmar a fantasia do possível retorno. Andando pelas ruas, pode confundir qualquer pessoa com os mesmos traços físicos com a figura perdida. É nesse momento que pode se manifestar a raiva, na forma de irritabilidade ou amargura porque o enlutado pode sentir-se responsável pela morte ou partida do outro, e até mesmo culpar a pessoa falecida por não ter cuidado de sua saúde, sentindo uma sensação de ter sido abandonada por ela.

Fase de desorganização e desespero
Nesta etapa do luto se manifesta a esperança do retorno da pessoa de maneira intermitente, seguida de desapontamentos repetidos: choro, raiva, acusações, ingratidão com as pessoas mais próximas. A aceitação da perda como definitiva pode trazer uma tristeza profunda, a sensação de que nada mais tem valor, acompanhada de um desejo de morrer. Nesses momentos pode ocorrer a vontade de se desfazer rapidamente de todos os pertences da pessoa falecida ou/e ao mesmo tempo, de guardar tudo o que lembre os momentos felizes. Apesar de serem ações contraditórias, elas podem ocorrer ao mesmo tempo.

Fase de organização
A organização pode ser reconhecida quando a perda é assumida como definitiva e que chegou a hora de seguir adiante. Esses momentos podem evocar a saudade e a necessidade do outro. Nesta etapa a tristeza pode retornar, ocasionalmente, tornando o processo de luto lento, mas gradual. O período do luto é variável e pode durar anos. Em alguns casos o luto nunca termina, dependendo do investimento emocional de cada pessoa. Um de seus traços mais característicos é o sentimento de solidão.

Somente após atravessar todas as fases do luto, de dor e sofrimento, será possível iniciar um novo processo de reorganização emocional, retomando o ritmo de vida interrompido no momento da perda do objeto amado e recomeçar, não do zero, mas do ponto em que parou, porém com muito mais maturidade emocional e capacidade de resiliência. Só então a pessoa estará pronta para uma nova relação, se assim o desejar.

Albertiza Mitozo Ferreira
Psicóloga, CRP 20/0316

1 comentário em “O luto é para ser vivido, não substituído”

  1. Sem viver o luto como deve ser vivido e no devido tempo a dor permanecerá na alma.
    Para se ter uma psyche sana é preciso esvaziar a “chaminé”. E falar é o remédio.
    Obrigada pelo texto psicóloga Albertiza.

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